Vigilantismo de vacas avança na Índia e impulsiona ataques contra muçulmanos

Nacionalistas atacam caminhões e ampliam violência religiosa em vários estados
Por Redação

Foto: Reprodução do vídeo Nacionalistas atacam caminhões e ampliam violência religiosa em vários estados
Nacionalistas atacam caminhões e ampliam violência religiosa em vários estados

O clima de tensão nas estradas indianas ganhou força após a circulação de vídeos mostrando nacionalistas hindus atacando caminhões em movimento com ferramentas afiadas para furar pneus. Os veículos, suspeitos de transportar carne bovina, tornaram-se alvo de grupos extremistas que, nos últimos anos, transformaram o chamado vigilantismo de proteção à vaca em uma onda de violência que provoca acidentes, espancamentos e até linchamentos.
 

Desde 2014, ano em que o BJP e o primeiro-ministro Narendra Modi chegaram ao poder, esse tipo de ataque cresceu de forma alarmante. Vendedores e transportadores muçulmanos são as principais vítimas, especialmente em estados como Uttar Pradesh, Haryana e Madhya Pradesh, que possuem leis rígidas contra o abate de vacas.

Dados apontam escalada após 2014

Organizações internacionais como Human Rights Watch, Reuters, ACLED e IndiaSpend registraram aumento significativo dos ataques após 2014. Só em 2025, mais de 50 incidentes violentos foram relatados, muitos deles fatais. Estima-se que 97% de todos os casos desde 2010 ocorreram depois desse período, destacando o impacto político e social da atual conjuntura.

Estatísticas resumidas (2010–2025):

2010–2014: ~4 ataques, 5 mortes
2015–2019: ~200 ataques, 50–60 mortes (84% muçulmanos)
2020–2024: ~150 ataques, ~40 mortes (mais de 90% muçulmanos)
2025 (até dez.): mais de 50 ataques, 15+ mortes (quase todas muçulmanas)
Total: mais de 400 ataques e cerca de 120 mortes — com 86% das vítimas sendo muçulmanas.

Contradição entre devoção religiosa e liderança mundial na exportação

Apesar da sacralidade da vaca no hinduísmo, a Índia vive uma contradição marcante: o país segue como maior exportador mundial de carne bovina, com projeção de 1,65 milhão de toneladas em 2025, principalmente de carne de búfalo. A disparidade entre o valor religioso do animal e a prática econômica alimenta tensões sociais e estimula ações violentas de grupos extremistas.

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Falta de dados oficiais dificulta o enfrentamento da violência

Especialistas afirmam que o fenômeno é alimentado por radicalização política, fundamentalismo religioso e ausência de estatísticas oficiais centralizadas. Como o governo indiano não mantém um registro unificado sobre crimes ligados ao vigilantismo, a subnotificação se torna frequente e a impunidade avança, deixando minorias — principalmente muçulmanos — cada vez mais vulneráveis.

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